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Minha mãe, o vazamento e “aslouca” da minha vida

Por Maurício Xexéo

E, no meio da conversa com a minha terapeuta, eu disse: Pois é, assim foi a minha semana. Minha mãe, o vazamento e “aslouca” da minha vida. Como ela, a minha psicoterapeuta gostou de como resumi a semana, sugeriu que eu escrevesse uma crônica abordando o tema e, como título, este mesmo: minha mãe, o vazamento e “aslouca” da minha vida.

Tive uma namorada que uma vez disse que, se nenhum homem tivesse chamado a ela de louca, ela teria falhado em ser mulher. Sim, ela estava mostrando a fragilidade masculina frente ao universo feminino e a fragilidade argumentativa do masculino, quando pego de calças curtas.

E, no caso da minha sentença, a coisa toda é mais além. Me refiro à quantidade de pessoas que tenho encontrado deslocadas ou se sentindo assim, fora de lugar, neste universo de algoritmos e falo do algoritmo real em que estamos forçadamente mergulhados. Quer por força de cultura, de educação ou outra força coercitiva qualquer.

São algoritmos da vida real, da obrigação de ser feliz, como se a tristeza fosse crime contra a humanidade, ao invés de um momento de introspecção e de “refazenda”, de refazer-se, de abrir aquele vinho comprado, guardado e nunca experimentado e testar para saber se é realmente bom, para beber ou fazer sagu. Um momento de redimensionar-se. O algoritmo da obrigação de ser rico e mostrar-se a última palavra da capacitação.

Pois é, e dentro desse cosmo, tenho encontrado mais mulheres atordoadas nesse mundo, do que homens. Não. Não porque são mais fortes etc e blá-bla-blá. Não, eles, os homens, não são mais fortes. Apenas não aprenderam a olhar, a olhar-se. As mulheres, sim. E, por conta disso, tenho encontrado cada vez mais mulheres que sentem a eletricidade, o desamparo do mundo, à flor da pele, na carne, nos ossos e medula.

Ah, sim! Para terminar, tem um vazamento no apartamento do andar de cima, que pinga aqui em casa, vai completar um ano e nada do vizinho resolver. Claro, minha mãe me lembra a cada instante, do vazamento e de cobrar o advogado uma solução, etc. O vazamento e as angústias existenciais se encontram na minha mãe e escoam pra mim. Óbvio.

Porém, quem atura e tem de escutar toda essa loucura é a minha psicoterapeuta. Que é mulher. Louca é ela!

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